domingo, 20 de maio de 2012 | By: Cinthya Bretas


NÃO CONFIE EM NINGUÉM COM MAIS DE 30 ANOS[1](ou, como tornar seu filho em um delinqüente juvenil mais facilmente)

       Naturalmente no processo de crescimento, as crianças ao alcançarem a adolescência gradativamente começam cada vez mais a desejar exercer sua autonomia, ampliando áreas de suas vidas que fujam ao controle e autoridade parental. Este deveria ser um processo natural e principalmente apoiado pelos pais, ansiosos em ver o desabrochar de seus rebentos em frutos produtivos e independentes. Principalmente por pais que acreditam nas bases da educação que ofereceram aos seus filhos.
       No entanto, alguns pais ficarão ressentidos com este movimento, ao perceber que estão perdendo o controle, o exercício de sua influência sobre suas crianças em um campo melindroso para eles, já  que consideram a imposição de suas regras uma  batalha diária na qual deve existir somente um vencedor:eles mesmos..        Pais assim foram reconhecidos como prejudiciais ao amadurecimento psicológico positivo de seus filhos através do trabalho de campo feito pelo psicólogo especialista em desenvolvimento e pesquisador Dr.Rick Trinkner doutorado da Universidade de New Hampshire (UNH).
        Observando certa incoerência nas pesquisas feitas nos EUA que avaliavam o olhar do adolescente sobre as autoridades em geral, iniciou uma nova pesquisa que se desdobrou em conclusões, para alguns paradoxais, que associam os estilos de educação rígidos e a delinqüência.  Apoiando-se sobre os estudos anteriores de Diana Baumrind[2] publicados em 1968 que classificava os pais como autoritários, indulgentes (ou permissivos), ausentes e por fim os pais competentes vistos pelas crianças como pais confiáveis iniciou sua pesquisa.          A partir deste estudo o princípio de que a linha dura ("it's my way or the highway") seria a única maneira acertada de educar cidadãos produtivos, caiu por terra definitivamente. A figura do “rebelde sem causa” imortalizada pelo ator James Dean acaba sendo desvendada em suas causas, vejam só, reais.
       Segundo as conclusões do estudo, a inflexibilidade e o autoritarismo ecoam nas mentes em formação como catalisadores da delinqüência. Na verdade os pais que tentam impor sua autoridade criando a regra universal de que somente eles têm sempre razão, retiram de si mesmos a autoridade, uma vez que, colocam a si mesmos em uma posição de superioridade e suposta perfeição da qual não estão aptos a responder diante de crianças que, ao contrário do que podem supor, são completamente capazes de perceber quando eles cometem erros.
     Percebe-se que estes pais normalmente o fazem pela insegurança e despreparo em lidar com relacionamentos humanos. São egoístas, vaidosos e pouco receptivos aos desejos e necessidades dos filhos. Criam regras implacáveis muitas vezes por mero capricho e jamais admitem que erram, jamais pedem perdão ou se colocam e posição acessível aos seus filhos. Alguns chegam mesmo a ser ofensivos à seus filhos, humilhando-os, sem falar nos maus tratos físicos, que apesar dos códigos de defesa da criança, continuam vigentes como método educativo.
     É comum inclusive que estes pais apresentem muitas vezes diante da sociedade uma postura oposta, demonstrando-se afetivos e protetores. Nestes casos há grande probabilidade de que a resposta emocional dos filhos extrapole de uma mera delinqüência, ainda sanável, para casos de sofrimento psíquicos mais profundos até mesmo chegando a uma psicose.
      Os pais reconhecidos como reais autoridades pelos seus filhos, são aqueles percebidos como confiáveis. Pais que são calorosos, afetivos e receptivos às necessidades de seus filhos, que conversam abertamente, explicando desde cedo às crianças os limites e trazendo as regras estabelecidas para seu entendimento através da demonstração de sua necessidade, do seu por que, e se colocando prontos a negociar sempre. Estes terão sucesso na criação de seus filhos.      
     Aqui cabe relembrar que estas regras necessitam ser sempre razoáveis e não meras determinações feitas por exercício de poder de fundo vaidoso ou por insegurança de pais que não tiveram por sua vez uma educação amorosa e infelizmente só sabem se impor ao mundo pela violência  e pela arbitrariedade.      
     Pais que se interessam com sinceridade pelo mundo de seus filhos e dedicam algum tempo a conversas amigáveis sem temer perder a autoridade por isso, são aqueles cujos acordos da criação serão obedecidos mesmo em sua ausência e que, principalmente, serão amados e por isto respeitados.
         Estes são os que, em primeiro lugar, obviamente, são fonte de exemplos cotidianos para seus filhos. Não é de se esperar honestidade dos filhos de pais que não são honestos. As crianças ao contrário do que alguns supõem não estão menos capacitadas em sua inteligência por serem crianças. Elas têm percepção aguçada e grande capacidade de avaliação diante dos comportamentos dos adultos. Percebem as mentiras dos pais, suas fraudes e furtos “socialmente aceitos” e diante de sua constatação ou naturalizam seus erros e os absorvem, ou decepcionados, passam a recusar sua autoridade a partir da comprovação de que suas imposições se traduzem por: ”Faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”.     
          Pais autoritários criam um abismo intransponível na comunicação e impõe regras que se não forem seguidas gerarão punições pesadas, chegando mesmo ao isolamento emocional dos filhos dentro de casa ou a sua expulsão. Os filhos passam a ser ignorados caso não cumpram as regras impostas ainda que não sejam razoáveis. Não existem acordos. As regras são estabelecidas sem explicações e espera-se que sejam obedecidas sem contestação Estes tendem a tratar seus filhos já adolescentes como eternas crianças negando-lhes a possibilidade de escolha. E é justamente nisto que se tornarão, incapazes em alcançar uma maturidade saudável.      
          Por outro lado pais cujas características geram confiabilidade em seus filhos fazem com que considerem que suas solicitações são legitimas fazendo com que busquem responder a elas, crescendo como crianças auto-suficientes, contentes e com autocontrole emocional. Estes pais embora exijam, o fazem de maneira amorosa porque aprenderam a amar.
       Segundo Trinkner e Baumrind há evidências de que esta característica autoridade dos pais confiáveis é o único método eficiente na socialização dos filhos e que a influência deste tipo de criação ocorre principalmente como uma resposta a este conjunto de fatores que os jovens associam àquilo que legitima a autoridade dos pais. Aqui como em toda relação existe uma via de mão dupla.          
       Esta é uma percepção, no entanto já alcançada pela psicanálise afinal o que ad resumem dizia Freud ? Quanto maior o pai, menor o filho , ou seja, o pai que necessita se impor desamorosamente massacrando e humilhando seu filho para se sentir mais forte  gerará um filho incapaz de lidar com a própria existência. A falta de respeito pelas necessidades dos filhos e o não reconhecimento de que eles são uma individualidade pode com certeza até mesmo levá-los apresentar uma séria patologia mais cedo ou mais tarde.
              Então, que tipo de pai ou mãe você tem sido?


[1] Baseado no artigo  : Trinkner, R., et al., Dont trust anyone over 30: Parental legitimacy as a mediator between
parenting style and changes in delinquent behavior over time, Journal of Adolescence (2011), doi:10.1016/j.adolescence.2011.05.003
Download do Journal of Adolescence  Volume 35, Issue 1, February 2012, Pages 119–132 in april - 2012 http://dx.doi.org/10.1016/j.adolescence.2011.05.003  
[2] Baumrind, Diana, Authoritarian vs. Authoritative Parental Control , Adolescence, 3:11 (1968:Fall)p.255

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