Todos nós temos nossos segredos. Alguns partilháveis, outros, todavia bem ocultos. Impossíveis, impossíveis de comunicar, de se deixar ir.
Memórias,
mágoas, saudades, medos. Raiva? Culpas? Arrependimentos? Vergonha??
Não
consegue imaginar? Então, exercite um pouco mais sua capacidade de imaginar. E
pense nisso materializado em objetos, novos ou velhos, acumulados. Em cada espaço livre dentro de uma
casa. Quartos, sala, banheiro, escada, quintal. Todas as funções da casa são subvertidas
em prioridade destes objetos . A cozinha não serve mais para cozinhar. O quarto não mais para
dormir. Todos cheios de objetos, alguns comprados e talvez nunca
usados, somente guardados. Outros quebrados e mesmo assim guardados. Ou peças, pedaços de eletrodomésticos, ou fios, restos de obra, ferramentas, roupas que nunca foram usadas. Itens que podem um dia ser usadas para artesanato ou projetos de "faça você mesmo"Quem
sabe, às vezes até mesmo retirados do lixo. Sim, retirados do lixo. Aliás, retirados
de um lugar que outras pessoas poderiam considerar lixo, mas que para o olhar
distorcido desta, pode ser um tesouro. Valioso, único e absolutamente necessário
mesmo que sejam apenas revistas, jornais, ferramentas e disjuntores, tampas de
garrafa enferrujadas, caixas e embalagens, potes vazios etc. coisas que para a
maioria das pessoas já estaria a milhas de sua casa num deposito de reciclagem
à muito tempo.
Preciosos porque dentro de sua lógica
acumuladora estas coisas em algum momento poderão ser necessárias.
O que deve ser acumulado será variável de pessoa a pessoa .Alguns acumulam bens outros objetos específicos e ate mesmo virtuais como lixo eletrônico na sua caixa de email, por exemplo, como fotos ,arquivos e musicas no hd .
Restos de comida,embalagens de alimentos e animais domésticos (as pessoas podem, por vezes, recolher mais animais do que eles têm a capacidade de cuidar, sem consciência de que seus animais não recebem atenção adequada)
O que deve ser acumulado será variável de pessoa a pessoa .Alguns acumulam bens outros objetos específicos e ate mesmo virtuais como lixo eletrônico na sua caixa de email, por exemplo, como fotos ,arquivos e musicas no hd .
Restos de comida,embalagens de alimentos e animais domésticos (as pessoas podem, por vezes, recolher mais animais do que eles têm a capacidade de cuidar, sem consciência de que seus animais não recebem atenção adequada)
Coisas
sobre as quais a mera ideia de descarte provoca uma angústia intensa. E que
diante da imposição em jogar algo fora ocorra uma dúvida dilacerante. E de cujo
desvendamento para pessoas de fora cause extrema vergonha e mal estar. Ameaças aos objetos colecionados provocam distúrbios físicos como náuseas, falta de ar e pânico, diante da possibilidade de se livrar dos itens antigos ou de não poder mais adquirir novos
Imaginou?
Parece como um aprisionamento infeliz, já que o impasse sempre se mantém. Não é
possível viver em meio a todas estas coisas sem que seu cotidiano e suas inter-relações,
profissionais e afetivas e sua saúde sejam de alguma maneira afetadas. Porém não é possível
viver sem elas.
Este é o drama do indivíduo que apresenta a Síndrome de Acumulação Compulsiva ou Síndrome de Diógenes[1] como se apelidou este
comprometimento emocional .
Pacientes
acumuladores compulsivos apresentam duas características básicas:
1- a impossibilidade
de jogar objetos fora devido à ansiedade
severa relacionada a rejeitar o que a maioria considera ser objetos
comuns;
2- aquisição
excessiva, muitas vezes resultado de compras desordenadas e desordem excessiva
ao ponto em que os espaços de vida e de trabalho não podem mais ser
usado.
Outras
características de personalidade comuns são a resistência a falar do assunto e o posicionamento irredutível, uma marcante indecisão, a grande desorganização e
a intermitente procrastinação. A evitação de desempenhar certas atividades
é que provoca a procrastinação. Deixa-se tudo para depois sempre, porque tomar
decisões é sempre arriscado e causador de angústia, inclusive a organização
cuja mera percepção da necessidade gera grande desconforto. O grande agravante são os traços paranoicos. A desconfiança do mundo à sua
volta propiciarão crescente isolamento ao longo do tempo o que os faz interpretar todos a volta como inimigos em maior ou menor grau e contra os quais é necessário manter um posicionamento firme.
Às vezes, esses
pacientes só são descobertos quando o
senhorio, assistente social ou um bombeiro entra nesta casa em que cada
superfície disponível - pisos, mesas, sofás e camas - é coberta com a desordem
e o lixo , tornando o ambiente um local
de coabitação impossível . Pois somente
o acumulador consegue ficar ali com relativa tranquilidade. Embora sempre irá existir o conflito entre o mal estar em
ver aquilo tudo acumulado e a dificuldade em conseguir descartar.
A percepção destes
objetos - para a maioria inúteis -
como bens preciosos decorre das muitas simbolizações em longos encadeamentos
que se estabelece neste lixo acumulado, assim como, todas as muitas emoções
estagnadas e intocáveis que ali estão simbolizadas e impossíveis de serem
descartadas.
Toda esta tralha, todo este lixo, necessita
ser mantido, de preferência de maneira secreta, pelo menos no inicio. Porém
isso levaria a uma retirada absoluta do convívio social. O que para os mais
jovens e que ainda trabalham seria impossível. Em algum momento será necessário
receber pessoas em casa. Já para os aposentados a compulsão se torna cada vez
mais arriscada para sua saúde inclusive, pois o acúmulo de objetos impede a movimentação
e torna impossível a limpeza e pode incluir alimentos e animais que sem
cuidados causam mais sujeira.
Deve-se
tomar cuidado para não confundir o acumulador com o colecionador, embora este último
em estado de compulsividade possa gerar para si mesmo também um grande caos. O
colecionador sentirá prazer em mostrar suas aquisições aos amigos o que não acontece
com o acumulador.
O
acumulador associará ao seu comportamento uma serie de crenças e justificativas
podendo ou não ter noção do seu real estado emocional, dependendo do grau de
comprometimento psíquico que sua compulsão abarca.
Alguns
percebem que está vivendo numa situação problemática e tem desejo de fazer algo
a respeito. Outros, um pouco mais graves acreditam, sem muita convicção, de que
a dificuldade para descartar objetos, a desordem o excesso consumista não são
problemático e reagem mal a qualquer interferência. Os casos mais perigosos são daqueles que são incapazes
de perceber que vivem em meio à sujeira e o lixo e que estão perdendo muito mais
do que ganham ao acumular. Estes abrirão mão de toda convivência social, de
todos os afetos para preservar seus objetos intactos empilhados dentro de casa.
A saúde e o bem estar dos outros possíveis
moradores que necessitarem conviver terá menor importância diante da compulsão
de acumular.
Um
estudo neurobiológico do Instituto de Neuropsiquiatria da UCLA[2] demonstrou que a despeito
das antigas associações os acumuladores não são uma variação do TOC, mas que na
verdade a área do cérebro afetada em seus sintomas diz respeito ás funções
cognitivas de tomada de decisão, atenção
concentrada, motivação e resolução de problemas, que estão frequentemente deterioradas
nos compulsivos.
Sabe-se, no entanto que a esta operacionalidade do cérebro decorre de uma disfuncionalidade cuja origem se encontra associada a um evento traumático. Geralmente o sintoma de acumulação de objetos é agravado após uma situação de perda de contato com o mundo: morte de algum ente, demissão, aposentadoria, e outras situações que fazem com que o indivíduo passe a se proteger acumulando o que pode vir a faltar.
Em evoluções mais graves será necessária a
intervenção judicial para que se chegue a uma intervenção medica obrigando que se
tomem providencias quanto a higiene muitas vezes já afetando o bem estar da
vizinhança e a saúde física dos moradores e do próprio paciente cuja auto negligência
pode desencadear doenças infectocontagiosas em decorrência da falta e higiene
em que vive. Trata-se de um tratamento que demanda muita diligencia mobilizando
várias estratégias associadas. A Psicoterapia deve ser combinada com tratamento psicofarmacológico
que ajudará a retirar o paciente da situação degradante com maior rapidez.
[1] Em
1975 esta Síndrome foi descrita e nomeada, uma certa injustiça ao filósofo
grego Diógenes de Sínope, também chamado Diógenes "o Cínico"
(kynikos, kynon = cachorro). Diógenes acreditava que a virtude não deveria ser
uma teoria mas uma ação prática, resultado da própria vivência, assim optou por
viver na miséria, habitando um grande barril como lar e carregando à luz do dia
uma lanterna acesa em busca de um homem honesto; acreditava que faria bem ao
ser humano aprender com o cão: "afinal o cão é capaz de realizar suas
funções corporais naturais em público sem constrangimento, um cachorro comerá
qualquer coisa, e não fará estardalhaço sobre que lugar dormir. Cachorros vivem
o presente sem ansiedade, e não possuem as pretensões da filosofia abstrata.
Somando-se ainda a estas virtudes, cachorros aprendem instintivamente quem é
amigo e quem é inimigo. Diferente dos humanos que enganam e são enganados uns
pelos outros, cães reagem com honestidade frente à verdade."
[2] O
Instituto de Neuropsiquiatria da UCLA é um ensino interdisciplinar e pesquisa
dedicado à compreensão do complexo instituto comportamento humano, inclusive
genéticos bases comportamentais e socioculturais, biológicos do comportamento
normal, e as causas e consequências dos distúrbios neuropsiquiátricos.
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